sexta-feira, 6 de julho de 2012

O que se espera quando se vê um parto no cinema

Não percebo esta mania de, em filmes e em séries, o parto ser sempre apresentado como uma anedota. É uma falta de imaginação. A grávida muito stressada, o marido muito atrapalhado. Os carros a terem de sair da frente à pressa e a baterem nos caixotes do lixo. A deixa mais que batida da mulher que não queria epidural, mas, a meio do trabalho de parto, transforma-se num animal feroz a exigir ao marido ou ao médico que lhe deem a anestesia. A mulher deitada na marquesa, seguindo as indicações do pessoal médico, a gritar frases desconexas e ofensivas, a escorrer em suor. É sempre uma cena supostamente hilariante.

Enquanto espero pelo Vicente, fui ver o filme «O que se espera enquanto se está à espera». Nada de novo. Leve, bem disposto, próprio para quem está a passar pela gravidez. Mas, claro, os partos são mostrados como se fossem anedotas.

Eu sei que as comédias românticas se chamam comédias por algum motivo. Só que, no parto, as piadas são sempre as mesmas. É como aquela cena em que, no primeiro encontro, um dos apaixonados fica com molho no canto da boca e o outro passa-lhe o dedo nos lábios suavemente para limpar. Não se aguenta.

Eu sugeria filmarem o parto como se filma um beijo apaixonado ou mesmo uma cena de sexo. Afinal, vai tudo dar ao mesmo. Pouca luz, câmara lenta, uma música bonita. Se é comédia romântica, de vez em quando, podiam puxar pelo romantismo em vez de puxarem pelo riso fácil.

Não acho que seja preciso mostrar o bebé a coroar, nem fazer grandes planos da vagina a esticar. Assim como acho que não é preciso mostrar línguas durante um beijo ou fazer grandes planos de órgãos genitais numa cena de sexo. Mas um parto pode ser muito romântico, garanto.

Nas condições ideais - pouca luz (ou seja, com privacidade), câmara lenta (ou seja, sem pressa), uma música bonita (em vez do som das conversas das enfermeiras) - o nascimento de um bebé tem tudo para ser um momento sublime. Desde a primeira contração ao primeiro choro. Em caso de dúvida, basta ver esta não comédia romântica: Le Premier Cri 

1 comentário:

  1. Concordo inteiramente contigo... Porque é que o parto tem que ser caricato?! Realmente partos tranquilos e lindos como os do filme que sugeres fariam muito mais sentido se fossem vistos de forma mais alargada. Contribuiriam certamente para muitas maes perderem o medo do parto... ha partos e partos! E ha como faze-los lindos e maravilhosos!! Experiencias unicas que deixam saudade!!! E eu sei do que falo :o)
    Margarida

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