sexta-feira, 1 de março de 2013

Sete meses para ter um nenuco




Com sete meses e meio, o Vicente já come sopa, já tem um dente, já se senta, já gatinha, já dorme a noite toda na cama dele, já ri muito mais do que chora. Com sete meses e meio, o Vicente já é o bebé imaginado. Redondo, cor-de-rosa, macio, a encher-me o colo, a interagir com tudo e com todos.

Não percebo qual é a ideia de os bebés nascerem tão feios e frágeis e chatos. Sei que estiveram nove meses dentro de água, três dos quais bem apertados e, por isso, nascem enrugados e manchados. Sei que o tamanho da cabeça do bebé tem de ser adaptado à pelve da mulher e que num perímetro cefálico de 30 e poucos centímetros não pode caber tanto desembaraço como seria desejável. Sei que os bebés trazem nos genes o hábito de chorar por tudo e por nada porque quando os humanos viviam na selva era preciso chorar (muito) para manter as feras à distância. Eu sei isso tudo, mas não era mais fácil se os recém-nascidos tivessem a aparência e o humor de um bebé de sete meses?

Ninguém está preparado para o choque que é um bebé a contorcer-se e a chorar o dia inteiro, pendurado na mama a toda a hora, inconsolável, indecifrável. É impossível estar. Não há fotos deles. Nos anúncios e nos livros, os bebés aparecem  sentados, sorridentes, reluzentes. Os recém-nascidos estão sempre a dormir placidamente e, muitas vezes, deitados sobre uma manta branca felpuda ou vestidos de abelha ou dentro de uma flor… Se os recém-nascidos fossem naturalmente fofinhos não precisariam do aparato todo que se vê nas fotos de Anne Geddes.

O bebé real só pensa na mãe, só quer estar com a mãe e não há mais nada que lhe interesse. E isso tem tanto de maravilhoso como de loucura. É uma responsabilidade assustadora. Quando o Vicente mamava em exclusivo, lembro-me de pensar: "Não posso ficar doente, se não ele fica sem comer". O peso é gigante. E o cansaço também. Para "ajudar", há dores nas costas e falta de tempo para dormir, comer e tomar banho em condições. 

O consolo é pensar que passa rápido. O problema é que quando começa a passar está na altura de ir trabalhar.

Não faz sentido nenhum a licença de maternidade, em Portugal, ser tão curta: quatro meses a receber o salário a cem por cento; cinco meses a receber o salário a 80 por cento; seis meses a receber o salário a cem por cento se um dos meses for gozado pelo pai. Entre os cinco e os seis meses de vida do bebé, a mãe está estafada, mas é então que ele começa a retribuir, com juros, retroativos e duodécimos. É nesta altura que o bebé se torna a fofura irresistível gravada no imaginário de qualquer menina. E é nesta altura que é suposto deixá-lo aos cuidados de outra pessoa. Ou seja, temos o trabalho todo e perdemos a melhor parte.

Há a possibilidade de tirar mais três meses de licença por progenitor pagos a 25 por cento. Como se fosse um luxo. Estes três meses não podem ser considerados um luxo. São absolutamente necessários para a mãe e para o bebé. É o tempo mínimo para mãe e filho namorarem à vontade. Sem cansaço extremo. Sem pressas. Sem preocupações. Tal e qual como imaginámos que fosse quando nos puseram um nenuco nos braços pela primeira vez.

2 comentários:

  1. É isso tudo e mais outra criança que tb nos exige atenção, mimo, carinho e dedicação!!!

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  2. Nao podia estar mais de acordo!!!!
    Margarida :o)

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